A percepção do ruído no ambiente escolar
Física Licenciatura
DELGADO, P. L. G
DE OLIVEIRA, D. R. M.
ERROBIDART, N. C. G.
Palavras-chave
Ensino de física; poluição sonora; influência no desenvolvimento escolar
Introdução
A poluição sonora, muito presente nos mais diferenciados ambientes da sociedade contemporânea, pode ser considerada como um problema ambiental que influencia na saúde física e emocional do homem moderno. Pode provocar no indivíduo problemas auditivos e extra-auditivos, dependendo da exposição a níveis elevados de ruído, a frequência da onda sonora emitida, a duração do sinal sonoro e aspectos relacionados a suscetibilidade e a atitude individual frente ao mesmo.
O ruído é um tipo de som difícil de definir com precisão, pois “[…] qualquer som pode molestar, ser desagradável ou irritante quando o ouvinte se encontra mal preparado, física ou mentalmente”. Considerando a variação do seu nível de intensidade sonora com o tempo de exposição os ruídos podem ser classificados em: “Ruído contínuo (com variações de níveis desprezíveis); Ruído intermitente (cujo nível varia continuamente de um valor apreciável); Ruído de impacto e de impulso (apresenta-se em picos de energia acústica de duração inferior a um segundo) ” (MEDEIROS, 1999, p. 10).
No ambiente escolar, o ruído pode provocar efeitos que vão além de problemas de saúde como vasoconstrição periférica, hiporritimia ventilativa, interferência no sono, tensão, irritabilidade e nervosismo. Ele “[…] pode ocasionar danos ao processo de ensino-aprendizagem, por interferir na realização de atividades” que exigem maior concentração (SOUZA NASCIMENTO e AGUIAR LEMOS, 2012, p. 390).
Um bom desempenho escolar de crianças e adolescentes dependem significativamente de uma clara e adequada percepção dos estímulos sonoros. Esses sujeitos“são mais vulneráveis às interferências em seu processo de aprendizagem, visto que se encontram em processo de desenvolvimento das habilidades auditivas e também no período de aquisição e desenvolvimento da linguagem oral e escrita” (SOUZA NASCIMENTO e AGUIAR LEMOS, 2012, p. 391).
Considerando a possibilidade de explorar a influência de sons, música ou ruídos na saúde auditiva dos estudantes das escolas parceiras do grupo PIBID-Física, ao abordar o conteúdo listado no Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino denominado o mecanismo da audição humana, estruturou-se o projeto som e audição. Uma das ações desse projeto foi atransposição didática de instrumentos de coleta de dados de pesquisas que exploravam a temática ruído e saúde auditiva: questionários.
Nesse trabalho apresentamos alguns dos resultados obtidos com a aplicação dos questionários elaborados com o objetivo obter informações sobre como os estudantes fazem uso de estéreos pessoais e outros dispositivos para ouvir música, possíveis preocupações com a saúde auditiva, sintomas resultantes da exposição a barulhos e sons altos e hábitos associados a escuta musical.
Metodologia
A adaptação realizada pelo grupo PIBID-Física tomou como referência os questionários utilizados por Luz e Borja (2012), Lacerda (2011) e Pereira (2011) e resultou num formulário com 30 questões. Ele foi respondido pelos alunos de todas as turmas de segundo ano do ensino médio da Escola Estadual Joaquim Murtinho, parceira do PIBID-Física.
Este trabalho em específico, apresenta os dados obtidos com oito questões, sendo três para identificar os sujeitos: Qual série e turma? Qual sexo? Qual sua idade?; Três sobre a sua opinião sobre a acústica da escola: O volume do som na sua escola é confortável?( ) sim ( ) não ( ) as vezes; Sua escola é ruidosa?( ) nunca ( ) raramente ( ) as vezes ( ) sempre ( ) não sei; Se a escola é ruidosa, o barulho vem: ( ) do pátio ( ) da própria sala ( ) de outras salas ( ) de obras na escola ( ) da rua ( ) da quadra ( ) da voz das pessoas; E duas se os alunos tem noção sobre os danos que a exposição prolongada ao ruído pode trazer a saúde: Já obteve alguma informação sobre os efeitos nocivos que o ruído pode trazer para saúde? ( ) Sim ( ) Não; Caso tenha respondido sim, por qual meio teve acesso a esse informação? ( ) Aviso do celular ( ) Escola ( ) TV ( ) Rádio ( ) Outdoor ( ) Mídia escrita ( ) Internet ( ) Profissional de Saúde.
Resultados e Discussão
No período matutino participaram da intervenção um total de 85 alunos, sendo 37 do sexo masculino e 48 do sexo feminino. No período vespertino um total de 48 alunos, sendo 22 do sexo masculino e 26 do sexo feminino. Já no período noturno, foi um total de 53 alunos, sendo 31 do sexo masculino e 22 do sexo feminino.
Quando questionados sobre o volume do som em sua escola ser confortável, obteve-se o resultado apresentado nas Figuras 1, 2 e 3.
Figura 1 – percepção do volume do som na escola ser confortável – matutino
Figura 2 – percepção do volume do som na escola ser confortável – vespertino
Figura 3 – percepção do volume do som na escola ser confortável – noturno
A partir dos resultados apresentados é possível observar que a maioria dos alunos não considera o volume do som em sua escola confortável no período matutino e vespertino, enquanto que no período noturno muitos consideram agradável. Isso pode ser resultante do fato de que a escola está localizada num ponto de um trânsito intenso durante o decorrer do dia, sendo menos intenso no turno noturno.
Quando questionados se eles consideravam a escola ruidosa apresentaram como respostas os valores apresentados nas figuras 4, 5 e 6.
Figura 4 – Percepção da escola como um ambiente ruidoso – matutino
Figura 5 – Percepção da escola como um ambiente ruidoso – vespertino
Figura 6 – Percepção da escola como um ambiente ruidoso – vespertino
Os resultados apresentados nas três figuras nos possibilitam sugerir que que a escola na percepção dos alunos é um ambiente ruidoso o que segundo os trabalhos utilizados para orientar a discussão apresentada não proporciona uma boa condição de estudo. Burneo (2007) por exemplo, afirma que determinados ruídos no ambiente escolar causam limitação cognitiva, dificuldade na aquisição da linguagem, déficit de atenção, hiperatividade, desordem no procedimento central auditivo, dislexia, disgrafia, etc.
Um aumento no ruído de 5dBs pode acarretar de 1 a 2 meses de retardo no aprendizado, e um nível de intensidade sonora de 30dBs pode acarretar 1 ano de atraso Burneo (2007).
Nos resultados apresentados na figura 3, chamou nossa atenção a contradição nos valores obtidos no período noturno, no qual a maioria dos estudantes afirmou na questão anterior que a escola tem um volume sonoro agradável e nessa que é ruidosa.
Na questão seguinte pretendíamos descobrir a fonte do ruído presente na escola, segundo a opinião dos alunos. Os resultados são apresentados nas figuras 7, 8 e 9.
Figura 7– Identificação da fonte de ruído na escola – matutino
Figura 8– Identificação da fonte de ruído na escola – vespertino
Figura 9– Identificação da fonte de ruído na escola – noturno
Ao compararmos os resultados apresentados nessas figuras nota-se que grande parte do ruído presente no período matutino e noturno é identificado pelos alunos como proveniente da própria escola. No período vespertino identificamos respostas em uma quantidade considerável que sinalizam que o ruído é proveniente da rua, o que se justifica se considerarmos que a escola está localizada em um centro urbano, numa das ruas de maior movimento.
Em alguns centros urbanos, a escolas foram construídas em regiões relativamente afastadas de locais muito barulhentos, porém com o avanço da cidade e dos transportes nos arredores daquela região acabou contaminando o centro escolar com os ruídos provenientes do ambiente externo, principalmente de veículos (BURNEO, 2007).
Por fim, foi feito um levantamento com os alunos para saber se eles tinham noção dos efeitos à saúde quando expostos a um determinado nível de ruído por um tempo prolongado, onde 171 responderam que sim, sabiam dos efeitos, e 17 responderam que não sabiam. Eles pontuaram como fonte de informação os resultados apresentados na figura 10.
Figura 10 – Fonte de informações sobre efeitos nocivos do ruído à saúde
A maioria dos alunos pontuou como fonte de informação a escola, aspecto que se justifica se consideramos que o professor explorou aspectos da saúde auditiva, dias antes de realizarmos a intervenção no contexto de sala de aula.
Algumas considerações
Os resultados apresentados nesse trabalho serão utilizados pelo pibidianos do gupo PIBID-Física para reformular o projeto som e audição e terá sua continuação em 2018.
Referências
BURNEO, Augusto. Ruido y aprendizaje Escolar. Revista de la pontifícia Universidad Católica Del Ecuador, n. 81. 2007.
DREOSSI, Raquel Cecília Fischer; MOMENSOHN-SANTOS, Teresa. O ruído e sua interferência sobre estudantes em uma sala de aula: revisão de literatura. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 17, n. 2, p. 251-8, 2005.
GUIDINI, Rafaela Fernanda et al. Correlações entre ruído ambiental em sala de aula e voz do professor. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 17, n. 4, p. 398-404, 2012.
MEDEIROS Luana Bernardines. Ruído: efeitos extra-auditivos no corpo humano [monografia]. Porto Alegre (RS): CEFAC – Pós-Graduação em Saúde e Educação; 1999.
SOUZA NASCIMENTO, Ludimila; AGUIAR LEMOS, Stela Maris. A influência do ruído ambiental no desempenho de escolares nos testes de padrão tonal de frequência e padrão tonal de duração. Revista CEFAC, vol. 14, núm. 3, 2012, pp. 390-402