Ensino coletivo de violão: relato de experiência em uma escola estadual
Licenciatura em Música – FAALC
JÚNIOR, A.R.O.
Palavras Chave:
Ensino coletivo; Violão; Centro de Interesses.
Relato no presente artigo uma experiência vivenciada na Escola Estadual Manoel Bonifácio Nunes da Cunha localizada na periferia de Campo Grande/MS, que por sua vez é de período integral e onde estive durante o ano de 2015 e 2016 atuando como bolsista do PIBID, no curso (oficina) de violão iniciante no projeto CENTRO DE INTERESSES. O curso não era obrigatório para nenhum dos alunos, porém todos aqueles que se matriculassem deveriam cumprir com as atividades do curso.
Tal projeto tinha como objetivo oferecer, fomentar, e contribuir com o desenvolvimento pessoal e curricular dos estudantes, onde diversas oficinas como: Grupo Vocal, Violão Iniciante e Intermediário, Inglês, Espanhol, Futsal, Banda Marcial, Reforço Escolar, Atletismo e Xadrex eram oferecidas aos alunos ficando a critério dos mesmos qual(is) atividade(s) fazer no contra turno das aulas.
Em nosso grupo Pibid, aconteciam reuniões semanais no prédio do curso de música da UFMS com a professora orientadora, com o intuito dos bolsistas exporem suas atividades, ideias e sugestões e ter junto a orientadora um feedback que proporcionasse uma auto avaliação reflexiva, buscando meios que ajudem tanto de forma qualitativa quanto quantitativa.
Com isso, todos os pibidianos[1] que trabalhavam com cursos ou oficinas semelhantes tinham um supervisor (professor atuante na escola e que mantém o elo Universidade – Escola), que naquele momento não era da mesma área (música) que os bolsistas. O supervisor tinha a função de fazer algumas orientações em sala de aula, auxiliar no registro das atividades (trabalho também dos bolsistas) e supervisionar o desenrolar das aulas, buscando ver e compreender os conteúdos e metodologias que cada pibidiano propunha trabalhando em sala.
A instituição que os acadêmicos frequentavam tinha sempre uma quantidade exata de instrumentos para se trabalhar em sala de aula. Com isso a escola Manoel Bonifácio dispunha de seis violões para os cursos de violões I e II (iniciante e avançado). Então durante o ano de 2016 estive todas as sextas feiras na escola no período das 12h30 às 14h10 desenvolvendo a oficina de ensino coletivo de violão, com isso, algumas complicações foram surgindo visto que grande parte dos alunos nunca tinha estudado violão ou qualquer outro instrumento. A falta de instrumentos também dificultou o ensino coletivo tanto pelo lado da instituição (escola) quanto pelo dos educandos, pois muitos não dispunham de condições financeiras para poder comprar um instrumento e realizar as atividades propostas pelos professores.
Contudo o ensino coletivo de instrumentos vem crescendo em todas as escolas e instituições por todo o Brasil, pelo fato de favorecer na democratização, socialização e facilitação no ensino de instrumentos nos diversos campos. Isso acaba aumentando a procura por profissionais deste tipo por parte das instituições, sejam privadas ou públicas, fazendo com que gere um mercado de trabalho ativo e preciso na sociedade atual. (CRUVINEL, 2008)
As aulas foram desenvolvidas a partir de algumas perguntas feitas para os alunos do projeto CENTRO DE INTERESSES logo no primeiro contato na escola. Tais como: Quais as suas pretensões com a música? Quais seus interesses com o violão? Tem alguém da família que toca algum instrumento? Já estudou música ou algum instrumento antes?
Tais perguntas ajudaram a ter um pré-conhecimento dos alunos bem como os seus objetivos, o que contribuiu no encaminhamento do planejamento buscando atender os interesses dos mesmos diante das questões apresentadas. Com isso, houve uma seleção de quais alunos já sabiam tocar algo no violão e quais possuíam o instrumento, e quem teria alguma outra vivência com a música seja teórico ou prática, pois a partir desta seleção os mesmos foram divididos nas turmas de violão I e II (iniciantes e avançados).
Optou-se pelo ensino coletivo por motivos como a falta de instrumentos; poucos alunos e o reduzido tempo de aula. Assim, Cruvinel (2008) diz que:
O Ensino Coletivo de Instrumento Musical pode ser uma importante ferramenta para o processo de socialização do ensino musical, democratizando o acesso do cidadão à formação musical. (CRUVINEL, 2008, p. 05).
Tourinho (2007) coloca-se na mesma posição em relação ao ensino coletivo, e destaca em seu trabalho os pontos positivos e negativos de se ensinar coletivamente.
Pontos positivos:
Algumas vantagens pedagógicas são óbvias, como a) o atendimento ao maior número de pessoas em menos tempo de trabalho; b) menor desgaste para o professor com as aulas iniciais, onde se repete menos as informações básicas; c) os estudantes aprendem uns com os outros, por observação mútua e autoavaliação intuitiva; d) os parâmetros musicais são adquiridos mais rapidamente. Existem também vantagens financeiras, como a diminuição do valor da hora-aula. (TOURINHO, 2007, p. 86-87).
Pontos negativos:
As desvantagens que aponto se referem à dificuldade de administrar diferenças individuais de aprendizagem, inclusive de temperamento e gosto musical, disciplina, assiduidade, pontualidade e estudo em casa. O ensino coletivo também tem curta duração. No máximo, após dois anos de aulas coletivas, para prosseguir nos estudos, aconselha-se a passar para atendimento individual ou em duplas e manter uma masterclass ou encontro mensal. (TOURINHO, 2007, p. 87).
Com base nos interesses dos alunos as aulas foram planejadas de forma gradativa, visando trabalhar o ensino coletivo de violão o mais próximo possível da realidade musical e cotidiana dos alunos, buscando não utilizar o ensino tradicional com leitura de partituras no início, pois eram alunos que não tinham tido esta vivencia anteriormente. De acordo com Teixeira (2008):
O ensino da música feito apenas com a escrita convencional, ou seja, a partitura, não garante ao aprendiz uma prática satisfatória no seu instrumento musical. O fato de alguém saber ler partitura, por exemplo, não garante a esta pessoa a capacidade de acompanhar um cantor com instrumento harmônico. A técnica de acompanhar harmonicamente um cantor muitas vezes existe em pessoas que nunca estudaram música na vida, mas aprenderam na prática (TEIXEIRA, 2008, p. 18).
Segundo o autor o ensino da partitura logo no início das aulas pode desmotivar os aprendizes, buscar trabalhar meios que estejam dentro de suas realidades e gostos no ensino coletivo de instrumentos pode ajudar no desenvolvimento dos alunos.
Diante disso houve uma apresentação do instrumento para os alunos, bem como a demonstração de sua postura correta e sonorização. Para um melhor aprendizado, a insistência na repetição por parte do professor ajuda na internalização do conteúdo, porém tudo de uma forma que não se torne cansativo demais.
Então, distribui e revisei em quase todas as aulas rapidamente questões básicas para se começar a tocar o violão até que os mesmos decorassem. Com isso, procurei de primeiro momento músicas que mesmo não muito conhecidas pelos alunos fossem fáceis de tocar usando o mínimo de acordes possíveis, visto que os mesmos nunca tocaram o violão ou instrumento similar. Busquei de forma gradativa trabalhar teoria junto a prática tornando mais “visível” questões como altura, timbre, forte – fraco, pulsação, etc., tudo dentro do plano de aula que era realizado mensalmente seguindo um modelo pré estabelecido pela nossa orientadora.
A tonalidade de Lá Maior foi a pré-estabelecida pelo fato de seus acordes visualmente serem mais apropriados para começar a aprender qualquer tipo de música, podendo a partir desta tonalidade, tocar então variando apenas a batida e um acorde ou outro. Os alunos eram estimulados a estudarem o instrumento, visando uma apresentação de um recital no final do curso, como uma forma de apresentar o trabalho desenvolvido no projeto durante o semestre.
Uma vez apresentado o instrumento e demonstrado como o mesmo soa, procurei ensinar dois acordes básicos que servem como base para a música Pra não dizer que não falei das flores – do compositor Geraldo Vandré, música que possui uma batida em ritmo de Guarânia e sua base em Mi menor e Re Maior.
Aula após aula, pelo menos um acorde novo eram ensinado para os alunos com o intuito de expandir seus horizontes e capacidades musicais, dentro do que cada um deles buscavam no projeto. Músicas de gosto em comum dos alunos foram trabalhadas, como É preciso saber viver – dos compositores Roberto Carlos e Erasmo Carlos, e variados gêneros musicais como: raggae, músicas sertanejas e gospel. Assim, alguns alunos demonstraram interesse diante das aulas e atividades propostas, e começaram a compor pequenas peças sob a orientação do professor, onde foram trabalhadas e agregadas ao repertório estudado.
Concluo que o modelo de ensino coletivo é eficaz e promove uma interação entre seus indivíduos de forma democrática, facilitando o processo de ensino-aprendizagem. A apostila usada durante o curso serviu de base para a seleção do repertório desde o início, e durante todo o seu desenvolvimento percebeu-se a valorização do curso pelos alunos, pois demonstraram engajamento e responsabilidade nas atividades propostas. A bibliografia pesquisada serviu de subsídio para afirmar a importância do ensino coletivo de violão, bem como suas vantagens e desvantagens.
Referências Bibliográficas
CRUVINEL, Flavia Maria. O ensino coletivo de instrumentos musicais na educação básica: compromisso com a escola a partir de propostas significativas de ensino musical. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2008.
TEIXEIRA, Maurício Sá Barreto. Ensino Coletivo de Violão: Diferentes Escritas no Aprendizado de iniciantes. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2008.
TOURINHO, Ana Cristina. Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais: crenças, mitos, princípios e um pouco de história. Anais XVI Encontro Nacional da ABEM e no Congresso Regional da ISME, América Latina, 2007.
[1] Termo utilizado para designar os bolsistas de iniciação à docência.