A dança siriri, a fauna e a flora: representações da diversidade presente na cultura pantaneira
PEDAGOGIA- CPAQ
SILVA, A.L.G.
FERREIRA, A.S.
CASTRO, D.M.
NIMBÚ, B.V.
RAMOS, L.A.
JUNIOR, O.T.
OLIVEIRA.V.A.A.S.
RESUMO: O presente trabalho é reflexo das ações desenvolvidas pelo Programa de Iniciação à Docência – PIBID com objetivo de resgatar a cultura pantaneira presente no Município de Aquidauana – Portal do Pantanal. Entre outros aspectos ressaltamos a diversidade da fauna e flora representada na beleza da dança do Siriri. Forma de expressão que muito tem motivado as crianças da Escola Estadual Professor Antônio Salústio Areias por meio do Projeto ”Cultura Pantaneira no Chão da Escola”. A pesquisa levou-nos à um diálogo com a obra Chão Batido: a cultura popular de Mato Grosso do Sul-Folclore e Tradição de Marlei Sigrist (2000). A autora nos convida a olhar para a linguagem da dança em muitas das suas representações na diversidade da cultura pantaneira, tendo em vista que muitas das nossas crianças, moradoras da região, desconhecem as raízes locais. Daí a proposta de entrelaçamento entre a teoria e as atividades práticas aplicadas no decorrer do projeto. Nossos argumentos se ancoram nas significativas produções em termos de envolvimento e participação das crianças. Para tal nos valemos das leituras de outros autores que contribuem para o enriquecimento da pesquisa como Nogueira (2002); Lobato (1922); VIGOTSKY (2004). As ações já nos apontam resultados que demonstram o fortalecimento de informações culturais por meio da rotina escolar e, tem continuidade com novas buscas orientadas pela coordenadora de área Professora Ana Lúcia Gomes da Silva e pelos supervisores, Professoresa Denair Ottoboni Maciel de Castro e Orestes Toledo Junior.
Palavras Chave: Diversidade Cultural; Pantanal; Dança.
Introdução
Partindo do Projeto ”Cultura Pantaneira no Chão da Escola” realizamos pesquisas que levou-nos à um diálogo com a obra Chão Batido: a cultura popular de Mato Grosso do Sul de Sigrist (2000), entre outros autores. A proposta foi explorar a regionalidade pantaneira na escola, procurando valorizar de forma interdisciplinar, a aprendizagem das crianças. Desta forma, trabalhamos com a perspectiva da valorização da cultura local fazendo uso da arte e ludicidade. Tratamos das ações desenvolvidas pelo Programa de Iniciação à Docência – PIBID com objetivo de resgatar a cultura pantaneira presente, em especial no Município de Aquidauana – Portal do Pantanal. A oportunidade em participar do PIBID no curso de pedagogia merece nosso reconhecimento ao processo que resultou neste trabalho, que por ora apresentamos.
Utilizamos de abordagens investigativas para descobrir quais informações tinham os alunos (que tratamos no decorrer de crianças) da Escola Estadual Antônio Salústio Areias sobre o Pantanal, oferecendo ferramentas de uma aprendizagem significativa para o exercício da oralidade, com debate, vídeos, histórias e releituras de imagens e resgate de brincadeira, estimulando o conhecimento científico. Contamos com a orientação da coordenadora de área Professora Ana Lúcia Gomes da Silva e com os supervisores professores: Denair Ottoboni Maciel de Castro e Orestes Toledo Junior.
Diante dos desafios, conversamos em especial com a autora Marley Sigristi que nos convida a olhar para a linguagem da dança em muitas das suas representações na diversidade da cultura pantaneira, tendo em vista que muitas das nossas crianças, moradoras da região, desconhecem as raízes locais. .
Concepção acerca da dança siriri como expressão da cultura pantaneira
A música é algo presente, marcante na vida do pantaneiro, não há como negar as transformações que ocorrem ao entrarmos em contato com ela. Expressam emoções vividas possibilitando tocar o mais intimo de cada um. A dança Siriri remete-se a identidade cultural popular e regional do Pantanal. Considerada como uma das danças mais antigas do Estado, grupos de Siriri são observados em festas folclóricas junto aos típicos grupos de Cururu.
O Siriri é uma dança animada em que os pares se colocam em fila ou roda, descrevem gestos alegres e gentis, com palmas aos pares e ao som de toadas. Os movimentos se: fileiras simples, fileiras duplas, fileira frente a frente, roda túnel. Recebem nomes como: barco do alemão, carneiro dá canoa virou, “vamo dispidi”. Os instrumentos usados para a música são: viola de cocho, reco-reco (ganzá) de bambu com um talho no sentido longitudinal e tocado com um pedaço de osso e o mocho (tambor) tocado freneticamente com dois bastões de madeira (SIGRIST, p. 72).
A dança desempenha o papel de satisfazer parte da necessidade básica do homem, um laço para unir famílias através das gerações. Daí propor entre as atividades a dança do Siriri no chão da escola. Esta dança foi uma valiosa linguagem para coroar com êxito a referência à cultura pantaneira. Cantaram, se movimentaram, com enfoque especial para a turma do primeiro ano que viveram intensamente a fauna e flora pantaneira. Momentos que proporcionaram um diálogo interdisciplinar durante todo o primeiro semestre de 2017, a culminância foi a produção de textos e a confecção da viola de cocho, com material reutilizável: o papelão. A produção foi muito bem comentada entre as crianças.
Os pais, parceiros da escola, mostraram com sua simplicidade, que constituíram um olhar mais apurado sobre o pantanal por meio de das pesquisas dos filhos, das histórias dos livros, professores e até mesmo com seus antepassados. Mostraram-se mais atentos a um passado vivido e agora atribuído aos conhecimentos dos seus filhos.
Segundo Sigrist (2000), a viola de cocho e o ganzá (reco-reco), instrumentos musicais, são artesanatos em madeira confeccionados pelos próprios tocadores. Características da cultura raiz que persiste viva através do tempo em que a escola aproveitou consideravelmente nas aulas de História.
Fauna e flora nos aspectos lúdicos e artísticos
A história da Onça Doente de Monteiro Lobato rendeu muitas especulações e oportunizaram diversas possibilidades nas disciplinas de ciências e língua portuguesa, estimulamos a oralidade e também conseguimos com que as crianças identificassem animais do pantanal, até então desconhecidos, na forma do seu habitat, costumes e outras particularidades. A contação de história ficou conhecida como a roda de conversa, onde todos compartilharam outras e outras histórias. Uma dinâmica que deu certo!
Para ilustração artística com as crianças, foram confeccionadas máscaras de onça, renderam expressões corporais quanto às características físicas do animal, um show! Acrescentamos durante as aulas de arte as releituras dos Ipês, árvore símbolo da flora pantaneira, ganhou lugar de destaque junto aos bichos em cada sala de aula, inclusive nas saias das meninas durante a apresentação da dança, planejada para culminância do projeto. Aprendemos absorvendo a cultura e transformando-a em arte.
No Pantanal, é comum as pessoas se orientarem através das ações dos animais e plantas “[…] Perscrutar a fauna e a flora, observar os campos celestes, buscando ler os indícios de chuva e sol […] Garça e tuiuiú nas partes altas do campo é indício de grandes enchentes”. (NOGUEIRA, 1994, p.56). Os tuiuiús são capazes de perceberem as aguas se aproximando então migram em busca de lugares que os abriguem da cheias.
Estas representações da natureza coloriram o cotidiano das crianças, há um pouco do Pantanal em cada canto da escola, lembrando sempre é preciso preservá-lo, Ribeiro nos auxilia (1984):
[…] Admiro as suas belezas e acredito que os ecologistas e conservacionistas, estudando a proteção que se faz nos países mais adiantados, encontrarão o caminho certo para a conservação da vida selvagem no Pantanal, não ao ponto dessa vida selvagem vir dificultar também a vida do homem, mas colaborando para que haja menos fome na humanidade (RIBEIRO, 1984, p.205).
Muitos animais como a arara azul e o lobo guará sofrem com a ameaça de extinção. Sabemos que as crianças de hoje serão os adultos de amanhã, ensinar o certo agora refletirá na formação consciente para preservar, aqui em especial nosso meio ambiente pantaneiro. Manoel de Barros já dizia ao apresentar a obra Pantanal do fotógrafo Araquém Alcântara (2003, p.5):
“O meu Pantanal, o Pantanal que eu conheço, é uma criança. Seu corpo está em formação, ele não completou ainda idade geológica nem para andar. Esta na fase ainda que os girinos querem se formar para sapos. Seus corixos são rios infantis. Aqui, quem destranca o portão do amanhecer é o aranquã”. […]
Quando alimentamos nosso aluno de cultura dificilmente desviaremos a educação do que se espera dela. As crianças aprendem por crenças que nascem e se preservam nos exemplos dos professores. Acreditamos nesta premissa.
Considerações finais
Diante do exposto a cultura regional precisa estar pautada na realidade escolar das crianças. Nosso exercício docente vem sendo um laboratório para aprendermos cada dia mais sobre cultura. Temos constatado que a exposição do conteúdo a ser explorado de forma lúdica e artística, faz toda a diferença positiva na aprendizagem da criança.
Notamos que a maioria das crianças desconheciam algumas características da Cultura Pantaneira e com as ações do Projeto Cultura Pantaneira no Chão da Escola, o olhar sobre o Pantanal mudou. Agora, conseguem identificar os Ipês como árvores nativas da região e símbolo da flora pantaneira. Conseguem identificar, também alguns dos muitos animais como: onça; capivara; tucano; tuiuiú dentre muitos outros que, assim como a Dança do Siriri, representam a rica cultura local.
Entre outros aspectos, ressaltamos a diversidade da fauna e flora representados na beleza da dança do Siriri como forma de expressão que despertou encantamento nas crianças da Escola Estadual Professor Antônio Salústio Areias.
Propor momentos como esses, enriquecem ainda mais o processo de ensino tornando-o significativo e prazeroso. Ter acompanhado a participação da família em torno do projeto desenvolvido nos dá a certeza de que estamos trabalhando de forma correta, valorizado nossa Cultura Pantaneira.
Assim, contribuindo para novos conhecimentos e valorizando o que é nosso, continuamos a conversa no resgate dessa cultura tão apreciada pelos brasileiros e estrangeiros. Que não percamos a esperança em ações que buscam preservar a natureza!
Referências
BARROS, André Luís. O tema da minha poesia sou eu mesmo. Jornal do Brasil. Caderno Ideias. Entrevista, Rio de Janeiro, 24 ago. 1996. Disponível em: <http:// www.secred.com.br/jpoesia/barros04.html>.acesso em: 20/09/2017.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. Ed. Brasiliense, 1960.
NOGUEIRA, Albana Xavier. O que é o Pantanal. São Paulo: Brasiliense, 1994.
__________. Pantanal: Homem e cultura. Campo Grande: UFMS, 2002.
RIBEIRO, Renato Alves. Taboco 150 anos– Balaio de Recordações. Campo Grande, 1984
SIGRIST, Marlei. Chão Batido: A cultura popular de Mato Grosso do Sul. Folclore, Tradição. Campo Grande: UFMS, 2000.
VYGOTSKY, L. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2004.