A evolução tecnológica do fone de ouvido e suas finalidades
Física Licenciatura
CRUZ H.A.
BACHMANN G.D
ERROBIDART, N. C. G.
Palavras Chave
Ensino de Física, ondas sonoras, escuta musical, saúde auditiva
Introdução
A Escuta musical ganhou mobilidade depois que a empresa Sony lançou no mercado em 1979, o walkman, dispositivo portátil que possibilitou o usuário ouvir música em público, individualmente, usando um fone de ouvido. Até então, só se escutava música em locais públicos como as “salas domésticas […] onde ficavam os ‘equipamentos de som’, geralmente composto por uns toca discos ou reprodutor de fitas magnéticas (k7 ou carretel), sistema de amplificação […] e caixas acústicas” (DE PAIVA, 2014, p.5).
Além da portabilidade, o walkman, juntamente com o fone de ouvido, proporcionou a individualidade musical, independentemente do local de escuta: “Como aparelho portátil de reprodução de som, com fones de ouvido, ele oferece uma experiência musical particularmente intensa que permite o refúgio também em locais públicos” (SCHMELING, 2005, p.25).
O fone de ouvido já existia antes do walkman mas, ele era utilizado apenas em indústrias ou dentro de residências e, só após esse período é que passou a ser utilizado para dar mobilidade a escuta musical. A mobilidade existente antes disso, comum entre os jovens era o transporte de aparelhos de som estéreo nos ombros pelas ruas das cidades urbanas (MACEDO, 2010).
A revolução, para além da mobilidade, é que o walkman permitiu privacidade e portabilidade com o pequeno tocador de fita acoplado aos fones de ouvido, na sua maioria sem a possibilidade de utilização de alto-falantes (MACEDO, 2010, p.18).
Considerando a nova possibilidade de utilização desses dispositivos eletrônicos e o desenvolvimento tecnológico crescente a partir da década de 1980 eles foram miniaturizados, ficando mais leves e sustentados por um arco contornando a cabeça que possibilitava sua inserção dentro da orelha, ou mantiveram o tamanho melhorando o isolamento acústico a partir do emprego de uma tecnologia usada durante décadas por pilotos de corrida.
Atualmente, além das tecnologias de transdutores diferentes, os fones possuem os mais diversos formatos físicos: alguns são muito grandes; outros, muito pequenos; uns são abertos; e outros, fechados. Quanto aos tipos podem ser classificados em: circunaurais, supra-aurais, intra-auriculares.
Segundo informações contidas no site Guia Mind The HeadPhone[1] os fones circunaurais, também conhecidos como over-ear ou around-the-ear, são aqueles que cobrem totalmente a orelha, com almofadas que se posicionam ao redor delas. A grande maioria dos fones mais sofisticados do mercado é desse tipo, tanto pelo conforto quanto por permitir que um trabalho mais extenso de acústica seja realizado, com câmaras melhor calculadas e falantes angulados. Os supra-aurais, também chamados de supra-auriculares ou, em inglês, de on-ear. são fones que ficam posicionados sobre as orelhas, e não em volta delas. A vantagem em relação aos circunaurais é o tamanho geralmente menor, o que favorece a portabilidade. Os auriculares ou earbuds, são os tradicionais fones pequeninos inclusos em iPods e em grande parte dos mp3 players e celulares dos anos 2000, até a popularização dos intra-auriculares.
Além do tamanho extremamente reduzido os fones auriculares, diferem-se de outros tipos de fone pelo fato de que eles repousam na concha, na parte externa das orelhas. Isso significa que eles geralmente são confortáveis e convenientes, no entanto, não há qualquer isolamento de sons externos e o encaixe é superficial.
Os fones de ouvido intra-auriculares, ou IEMs (In-Ear Monitors), são também muito pequenos, mas o que os difere dos auriculares é o fato de, com uma borracha ou espuma na ponta, vedarem totalmente o canal auditivo. O resultado é uma qualidade de som geralmente muito superior à dos auriculares: mais cheia e autoritária e com graves mais presentes, além de um isolamento de ruídos externos geralmente muito eficaz.
Independente do modelo ou tipo, evidenciamos nos últimos anos a popularização de dispositivos portáteis de escuta musical como os presentes nos aparelhos celulares, principalmente entre os adolescentes. Essa mudança foi evidenciada pelos pibidianos no contexto de sala de aula: muitos dos alunos utilizam os fones no decorrer de todo o tempo que permanecem na escola. Identificando isso não apenas como um problema pedagógico, mas de saúde e que poderia ser explorado na abordagem do conteúdo os mecanismos da audição é que surgiu o trabalho aqui apresentado: um recorte do projeto som e audição.
Metodologia
Para obter informações relacionadas ao uso do fone de ouvido pelos estudantes além de outros aspectos relacionados com a saúde auditiva e os mecanismos da audição o grupo PIBID- Física buscou na literatura por resultados de pesquisa que orientassem a ação em sala de aula. Identificamos os trabalhos de Luz e Borja (2012), Lacerda (2011) e Pereira (2011). Com base nesses trabalhos elaboramos um questionário que possibilitava obter informações sobre como os estudantes fazem uso de estéreos pessoais e outros dispositivos para ouvir música, possíveis preocupações com a saúde auditiva, sintomas resultantes da exposição a barulhos e sons altos e hábitos associados a escuta musical.
Das 30 questões presentes no questionário esse trabalho apresenta o resultado obtido em oito delas. Ele foi respondido por 188 estudantes, 96 do sexo feminino e 92 do sexo masculino, matriculados nas turmas de segundo ano do ensino médio da Escola Estadual Joaquim Murtinho, parceira do PIBID-Física. As questões são: Qual sua série/turma?; Qual seu sexo?; Qual sua idade?; Em uma escala de 0 a 10, qual o volume que você habitualmente usa em seu estéreo pessoal (celular, caixa de som, mp3, mp4, ipod, etc)?; Qual tipo de fone de ouvido você costuma utilizar? ( ) inserção do tipo auricular – pequenos e geralmente ficam apenas encaixados na orelha ( ) circum aural (usado fora da orelha) ( ) Inserção do tipo intra-auricular – pequenos que vêm com pontas de silicone para encaixar no ouvido ( ) não uso fones de ouvido; Alguns dos aparelhos celulares possuem um sinal indicativo que ajuda a controlar o volume do som, de forma a não prejudicar sua saúde auditiva, ao usar o fone de ouvido. Geralmente esse sinal ocorre sempre que o volume atinge o valor correspondente ao 10 ( ) meu celular não possui esse dispositivo ( ) meu celular emite esse sinal, mas eu ignoro e escuto sons com valores superiores ao volume 10 ( ) meu celular possui esse indicativo e eu busco atender a orientação de escutar sons com volume inferior a 10.
Resultados e Discussão
O gráfico 1 apresenta os resultados da questão que solicitava que os estudantes informassem em uma escala de 0 a 10, qual o volume que você habitualmente usa em seu estéreo pessoal (celular, caixa de som, mp3, mp4, ipod, etc.)
Gráfico 1– Indicativo de volume do estéreo pessoal, sendo 0 o mínimo e 10 o máximo.
A maioria dos sujeitos utiliza seus dispositivos de escuta musical com volumes acima do recomendado. Isso pode causar problemas de saúde, tanto físicos quanto psicológicos.
O gráfico 2 e 3 indicam respectivamente o tipo de fone de ouvido que os estudantes que participaram da atividade costumam utilizar acoplados aos seus dispositivos de escuta musical, geralmente o celular.
Gráfico 2– Tipo de fone de ouvido usados pelos estudantes do sexo masculino.
Gráfico 3 – Tipo de fone de ouvido usados pelos estudantes do sexo feminino
Apenas dez estudantes declaram não fazer uso do fone de ouvido, o que está de acordo com o resultado de algumas pesquisas que mencionam que os adolescentes são os que mais usam esse tipo de equipamento.
Os fones do tipo auriculares são os mais utilizados por ambos os sexos, aspecto que pode estar relacionado com o fato de serem esses modelos os disponibilizados pela maioria dos modelos de celulares, além dos aspectos relacionados com a portabilidade e acessibilidade.
Comparando o número de sujeitos do sexo masculino e feminino que usam os fones circum aurais e intra auriculares, temos que o uso dessas categorias de fone é preferência do sexo masculino.
Os gráficos 4 e 5 respectivamente apresentam os resultados relacionados com a observância do sinal indicativo de volume prejudicial a saúde auditiva, emitido por alguns celulares.
Gráfico 4 – resultado relacionado ao sinal indicativo que ajuda a controlar o volume do dispositivo de escuta musical para estudantes do sexo masculino.
Gráfico 5– resultado relacionado ao sinal indicativo que ajuda a controlar o volume do dispositivo de escuta musical para estudantes do sexo feminino.
Temos que os sujeitos do sexo masculino atendem o aviso do celular com mais frequência que os do sexo feminino. Ainda assim, a grande maioria ignora o aviso, o que confirma a conclusão da questão anterior, de que a maioria usa os volumes máximos.
Algumas considerações
Os resultados evidenciam que os estudantes fazem uso de dispositivos de escuta musical em volumes elevados e ignoram os avisos de risco para saúde auditiva. A consequência mais imediata desse comportamento evidenciado é preocupante: o uso do fone de ouvido e a limitação que o aparelho dá na percepção do ambiente ao redor do usuário é o menos grave.
Segundo Borges (2012, p.9) ao vestir fones de ouvido “[…] o jovem busca criar para si um outro espaço sonoro, na tentativa de se proteger das interferências externas e paisagens sonoras que estão fora de seu controle“. Ainda segundo esse autor existem registros de “[…] diversos casos de pessoas atropeladas enquanto usavam o fone ou conversavam no celular e não ouviram o sinal da buzina do veículo” (BORGES, 2012, p.12).
Além disso, estudos mostram que a exposição contínua a fones de ouvido, pode causar danos permanentes á células do ouvido, na região da cóclea e pode causar zumbido, perda da audição e dores de cabeça (BARCELOS e DAZZI, 2016).
Ainda conforme Barcelos e Drazi (2016, p. 779-780), os fones intra-auriculares são mais perigosos porque potencializam o som. Quando a fonte sonora é externa, como nos circunaurais, há uma perda de energia vibratória no caminho entre ela e o ouvido, entretanto, com o fone dentro do ouvido, a energia que atinge o ouvido é completa.
Referências
BARCELOS, Daniela Dalapicula; DAZZI, Natália Saliba. Efeitos do MP3 player na audição. Rev. CEFAC, v. 16, n. 3, p. 779-791, 2014.
BORGES, Paulo. As novas paredes sonoras. Anais completos do 8º Interprogramas de Mestrado da Faculdade Cásper Líbero. São Paulo-SP, 2012. Disponível em: https://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2014/04/Paulo-Borges1.pdf
DE PAIVA, José Eduardo Ribeiro. A Escuta Musical na era da Convergência e da Mobilidade. In: XXVII Intercom, 2014, Foz do Iguacu. Anais Intercom 2014, 2014. v. 01. p. 1-12. Disponível em http://www.portalintercom.org.br/
LACERDA, ABM de et al. Hábitos auditivos e comportamento de adolescentes diante das atividades de lazer ruidosas. Revista CEFAC, v. 13, n. 2, p. 322-9, 2011.
LUZ, Tiara Santos da; BORJA, Ana Lúcia Vieira de Freitas. Sintomas auditivos em usuários de estéreos pessoais. Int. arch. otorhinolaryngol.(Impr.), v. 16, n. 2, p. 163-169, 2012.
MACEDO, F. A. B. Autoria e autenticidade na música: Algumas transformações decorrentes das novas tecnologias de produção e reprodução sonora. In: Simpósio de Pesquisa em Música, 2007.
PEREIRA, Priscila. A utilização de tocadores portáteis de música e sua consequência para a escuta musical de adolescentes. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Música, Área de Concentração em Educação Musical, Cognição e Filosofia, Departamento de Música e Artes Visuais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. 2011.
SCHMELING, A. Cantar com as mídias eletrônicas: Um estudo de caso com jovens. 2005. UFRGS, Dissertação (Mestrado em Música), 2005.
[1] http://mindtheheadphone.com.br/2015/12/guia-mind-the-headphone/